De Exu saiu a Luz que iluminou o Sertão Nordestino
Exu, no Sertão pernambucano do início do Século XX, era uma terra pobre, de pobres agricultores, onde a áspera vida fazia com que muitos jovens migrassem para lugares distantes, despovoando a terra madrasta. Foi nessa terra, na Fazenda Caiçara, que fica no sopé da Serra do Araripe, que nasceu o Rei do Baião.
Luiz Gonzaga do Nascimento nasceu a 13 de dezembro de 1912, sendo filho de Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus – Mãe Santana, ele agricultor, tocador e consertador de fole e ela doméstica. Nasceu no dia consagrado pela Igreja católica a Santa Luzia, a Virgem da Eterna Claridade Visual, por isso foi batizado como Luiz.
Apesar das agruras da vida, cresceu forte e saudável. Aprendeu a tocar acordeão com seu pai, com quem passou a se apresentar, ainda na adolescência, em bailes, forrós e feiras. Nas noites estreladas sertanejas, sonhava ser artista, conhecer novas terras, mas nem de longe imaginava chegar aonde chegou com a sua arte.
Em 1930, com dezoito anos incompletos, uma decepção amorosa e seu conseqüente desfecho, fez com que fugisse de casa e partisse para o Crato/CE e de lá para Fortaleza, onde se alistou no Exército. Mas esse alistamento se deu num período conturbado da política brasileira, com revoluções estourando Brasil a fora. E Gonzaga, como soldado, viajou por diversos Estados brasileiros. Em 1939, servindo em Minas Gerais, deu baixa do Exército resolvido a se dedicar a música. Passou a tocar acordeão, na zona do mangue carioca, interpretando os grandes sucessos da época.
Em 1941, no programa de Ary Barroso, foi aplaudido executando a música “Vira e mexe”, composição de sua autoria de sabor regional. Passou a trabalhar na Rádio Nacional e foi lá que teve contato com o acordeonista gaucho Pedro Raimundo, e desse contato surgiu à idéia de usar os trajes típicos de sua região, figurino esse que o consagrou como artista. Tornou-se autêntico representante da cultura nordestina, mantendo-se fiel às suas origens mesmo seguindo carreira musical fora de sua região. Podemos até dizer que ele foi o primeiro músico a assumir a nordestinidade representada pela sanfona e pelo chapéu de couro.
Foi um predestinado. Ao nascer no dia de Santa Luzia, tornou-se luz. De forma criativa, denunciou as injustiças de sua árida terra, o Sertão nordestino, cantando a pobreza, a tristeza e o desengano provocado pela seca e pela falta de apoio governamental. Cantou as dores e os amores de um povo sem voz. Através das letras de sua música, apresentou o Nordeste para o Brasil, iluminando assim aquela parte do país tão esquecida por todos.
Foi uma das mais completas, importantes e inventivas expressões da música popular brasileira. Tinha uma carreira consolidada e reconhecida, tocando em Paris em 1985 e ganhando o prêmio Shell de Música Popular em 1987. Fez escola com o seu estilo.
Morreu vítima de parada cardíaco-respiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana, a 02 de agosto de 1989, aos 77 anos. Foi sepultado em Exu, sua terra natal. Mas como disse o poeta, “morre o homem e fica a fama”. E essa homenagem que se faz no centenário do seu nascimento e a prova maior dessa sentença.
Geraldo Maia – Colunista
É Notícia Mossoró