Museu Histórico “Lauro da Escóssia”
Em 08 de abril de 1880 dava-se a inauguração do prédio da Câmara Municipal e Cadeia Pública de Mossoró, quando o administrador de obras, Astério de Souza Pinto, fez a entrega do prédio ao Coronel Francisco Gurgel de Oliveira, Presidente da Intendência, que para ali transferiu a Câmara Municipal. A construção havia se iniciado dois anos antes, em 1878, pelo Juiz Municipal Manoel Hemetério Raposo de Melo, então Presidente da Comissão de Socorros Públicos.
O prédio foi construído em dois andares: no andar térreo tinha porões, celas e alojamentos para o Corpo de Guarda; no andar superior, foi instalada a Câmara Municipal, que inaugurou as novas instalações a 14 de abril do mesmo ano, data essa em que foi realizada a sua primeira sessão.
O professor Lauro da Escóssia, em seu livro “Cronologias Mossoroenses”, narra um fato curioso acontecido com o Dr. Manuel Hemetério. O Dr. Hemetério, “tinha por hábito fiscalizar diariamente o andamento da construção, demorando-se por horas no interior do prédio. Certa tarde, entrara o magistrado numa dependência interna, sem que ninguém percebesse a sua presença. E ao encerrar o horário de trabalho, pedreiros e serventes fecharam o prédio e se recolheram às suas residências. Já noite, um carreiro (tangedor de carros de boi), vindo do porto de Santo Antônio, ao passar defronte a construção, ouviu gritos que dali partiam e ao se aproximar percebeu tratar-se de alguma pessoa. Grande foi a sua surpresa ao reconhecer o Dr. Manuel Hemetério, o Juiz construtor do prédio, que por esquecimento dos operários ficou ali fazendo às vezes de primeiro detento da Cadeia Pública de Mossoró. Foram procurar o administrador da obra que outra alternativa não teve senão deslocar até o prédio em construção para soltar o Dr. Manuel Hemetério”.
O prédio ficou famoso por ter sido em suas dependências que se realizou dois dos principais acontecimentos de Mossoró. O primeiro foi quando em 30 de setembro de 1883, a Câmara Municipal realizou a sessão magna da Libertadora Mossoroense, declarando que a partir daquela data o município se achava livre de escravos. O segundo se deu quando nas eleições de abril de 1928, dona Celina Guimarães Viana votou pela primeira vez, constituindo-se na primeira mulher na América do sul a solicitar sua inscrição no Registro Eleitoral, pedido deferido pelo Dr. Israel Ferreira Nunes, em 25 de novembro de 1927. Foi também nesse prédio que foi detido o cangaceiro Jararaca, em 1927, quando do ataque de Lampião à Mossoró.
Em setembro de 1981 o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, a Fundação José Augusto e a Prefeitura Municipal de Mossoró assinaram um convênio visando à restauração do prédio. O projeto de restauração foi elaborado pelo Núcleo de Restauração de Monumentos Históricos da Fundação José Augusto, e aprovado pela secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Com a restauração do prédio, é instalado no mesmo o Museu Histórico “Lauro da Escóssia”. O referido Museu abriga o mais rico acervo da região nos campos da Mineralogia, Paleontologia, História e Arqueologia Indígena, além de variada coleção de peças avulsas que fizeram a história da cidade desde a sua fundação.
O Museu funcionou muito bem nesse prédio por mais de 20 anos, mas o desgaste do tempo exigiu uma nova reforma. E por um longo período o Museu ficou com parte do seu acervo indisponível, até que no final de 2012 a Prefeitura Municipal de Mossoró reinaugurou o Museu, totalmente reformado e modernizado.
Mais 10 anos se passaram e o prédio do Museu novamente precisou ser restaurado. Na nova restauração, o acerco foi novamente modernizado. E assim, no dia 23 de setembro de 2023, mais uma vez, o Museu Histórico “Lauro da Escóssia” abriu suas portas para a comunidade.
Os museus, há muito deixaram de ser depósitos de coisas antigas. O novo conceito de museus classifica-os como sendo uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe patrimônio material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus promovem a diversidade e a sustentabilidade.
Que o Museu Histórico “Lauro da Escóssia” possa cada vez mais ser memória viva da nossa história.
Geraldo Maia – colunista