Ainda sobre o ataque de Lampião a Mossoró
Lauro da Escóssia, em seu livro “Cronologias Mossoroenses – Quando, como e onde aconteceram os fatos…” que foi editado em 1983 pela Coleção Mossoroense, nos informa que em 03 de setembro de 1927 “o município de Mossoró representado por expressivas forças políticas e diretores dos órgãos de imprensa, homenageia em Natal, o Governador José Augusto Bezerra de Medeiros por sua atuação em prol da cidade, quando do ataque de Lampião, em junho desse mesmo ano. A caravana de Mossoró era constituída do Prefeito Rodolfo Fernandes, Deputado Federal Rafael Fernandes, Deputado Estadual José Fernandes Gurjão, jornalistas Augusto da Escóssia, José Martins de Vasconcelos e José Octávio, sendo orador oficial o Deputado José Fernandes Gurjão em solenidade realizada no Palácio do Governo.
Essa notícia me causa estranheza pelo fato de ser bastante conhecida a negativa do Governo do Estado do Rio Grande do Norte em enviar qualquer ajuda ao povo de Mossoró. Jaime Guedes, gerente da filial do Banco do Brasil, no relatório a matriz, no Rio de Janeiro, expõe o ponto de vista do Governo: “Aquelas autoridades, alegando razões de ordem financeira e refutando o receio de que todos aqui residentes se achavam possuídos de um possível ataque de bandoleiros, animavam-nos, afirmando que se não havia registrado o fato de uma cidade litorânea do tamanho desta ser atacada e que, no momento, não podia atender”..
Raul Fernandes, em seu livro “A marcha de Lampião – Assalto a Mossoró”, sétima edição, publicado em 2009 pela “Coleção Mossoroense”, informa o que se passava na noite do dia 12 de junho de 1927: Em Natal, chegavam informações precisas sobre a gravidade da situação (o ataque de Lampião a Mossoró). Militares aquartelados no prédio do Telégrafo de Mossoró continuavam pedindo armamento e tropas, já muito solicitadas.
Rodolfo Fernandes e altos comerciantes, descrentes de qualquer ajuda, não se comunicavam com o Governo. Preparavam-se as próprias custas. “
Em outro trecho: “O Governador, por intermédio do Chefe de Polícia, mandou que se organizasse, com urgência, uma tropa, sob o comando de um oficial, a fim de seguir para Mossoró. Partiriam de trem, conduzindo oito automóveis, para prosseguimento da viagem da estação terminal, em Angicos. Benício Filho determinou que o Capitão João Fernandes de Almeida, alcunhado de Joca do Pará, assumisse o comando, com urgência. Como o Capitão pediu licença para transferir os encargos na corporação, o Chefe de Polícia aborreceu-se e declarou que não mandaria mais a tropa, contrariando sua determinação.
O Executivo Estadual, além do abundante material bélico, contava com os militares. Em menos de nove horas, o reforço poderia chegar ao destino. Perdeu-se, assim, excelente oportunidade de aniquilar toda a quadrilha de criminosos. “
Outras evidências da falta de apoio do Governador José Augusto a causa de Mossoró: “O Correio do Povo, semanário mossoroense independente, em sua edição de 15 de maio de 1927, alertava as autoridades estaduais: É doloroso que a nossa população viva sem garantias! É vergonhoso que uma horda de bandidos saqueie, incendeie e mate em muitos pontos do Estado e não seja a sua destruidora ação esmagada de pronto pelas Forças a quem cabe zelar pela nossa segurança. “
Ainda do livro de Raul Fernandes: “Rodolfo Fernandes chama a atenção do Governador às justas reclamações de Mossoró. Alerta-o sobre a crescente impopularidade de seu governo na Zona Oeste. José Augusto remete, então trinta fuzis e alguns rifles antigos. Ficariam em custódia na Prefeitura para uma eventualidade qualquer. “
Diante das evidências acima, eu pergunto: Toda essa expressiva força política e diretores de órgãos da imprensa, formada pelo Prefeito Rodolfo Fernandes, Deputado Federal Rafael Fernandes, Deputado Estadual José Fernandes Gurjão, jornalistas Augusto da Escóssia, José Martins de Vasconcelos e José Octávio, foi a Natal agradecer ao Governador José Augusto por esse trinta fuzis e alguns rifles antigos?
Essa notícia, registrada por Lauro da Escóssia, é no mínimo estranha, já que todos os jornais locais, representados por esses jornalistas que estavam na comitiva, falaram horrores sobre a falta de apoio do Governo do Estado numa situação calamitosa para Mossoró. Qual foi o real motivo daquela comitiva? Sinceramente espero que alguém, com mais informação, venha a esclarecer esse fato. Isso, no entanto, não tira o mérito do Prefeito Rodolfo Fernandes e de todos que aqui estavam e que muito trabalharam na defesa da nossa cidade contra o poderoso bando de Lampião.
Geraldo Maia – colunista