Cultura

Para a História de Areia Branca “As Febres” – Parte 3

Em novembro de 1905 o Médico Sanitarista Oswaldo Cruz visitou a Vila de Areia Branca, no Rio Grande do Norte. A equipe médica, por ele chefiada, estava empreendendo uma expedição a 30 portos marítimos e fluviais de Norte a Sul do país, para estabelecer um código sanitário com regras internacionais. Chegou ao porto de Areia Branca no dia 23 de novembro de 1905. O jornal “O Mossoroense”, com certa dose de ironia, noticiou a chegada do ilustre visitante:

“A 23 do corrente aportou às plagas de Areia Branca o formoso iate da higiene federal trazendo em seu bojo em excursão pelo Norte da República o general da brigada mata-mosquito, o soberano da bacteriologia pátria, o príncipe da higiene oficial, no dizer do Sr. Brício Filho.

Trata-se nada maia nada menos do Sr. Oswaldo Cruz, aquele mesmo e mesmíssimo árbitro supremo da profilaxia republicana federativa, autor do monumental regulamento da vacinação obrigatória de eternas lamúrias e lúgubres recordações.

Esta sumidade sanitária, sempre instalada em seu luxuoso barco, demorou-se cerca de 24 horas no porto de Areia Branca.

Apesar de ao chegar a ter recebido os cumprimentos de uma comissão, que em nome do Município fora a bordo gentilmente recebe-lo e convidá-lo para baixar a terra, onde esperava-o confortavelmente hospedagem, o Dr. Cruz permaneceu sempre a bordo, isolado desta parte do continente, como que temeroso do contato da população indígena.

Segredo da higiene defensiva talvez. “

Em 1906 a cidade de Areia Branca foi assolada por uma onda de febre que quase exterminou com a sua população. Era, na verdade, uma peste Bubônica que se caracterizava por bubões nas virilhas que se inflamavam e gangrenavam rapidamente. Foi uma epidemia que causou grande mortalidade na Vila. As pessoas contaminadas morriam, quase sempre, em 24 horas. Essa peste transmitida pelos ratos foi trazida para a pequena vila, pelos vapores da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira que faziam escala no porto daquela localidade e atracavam nos dois trapiches do Cais Tertuliano. Os ratos conduziam pulgas que picavam as pessoas inoculando a peste.

Mossoró não foi atingida. Mas foi preocupado com o caso acima exposto, que na sessão da Câmara de 16 de julho, o seu Presidente, depois de uma longa explanação dos fatos, anunciou a demolição e reconstrução do velho mercado público, que estava em péssimo estado de higiene, um verdadeiro pardieiro oscilante que infectava os arredores. O Dr. Almeida Castro, após fazer inspeção nos diversos pontos da cidade, acabou por condenar o velho prédio. Para tanto nomeou uma comissão composta pelos Intendentes: Rodolfo Fernandes, Luís Colombo, Tavares Cavalcanti e do Procurador da municipalidade Major Francisco Romão Filgueira, para em nome da Intendência contraírem um empréstimo da quantia suficiente para fazer o serviço de que se trata. E os procedimentos foram tomados de imediato, tanto assim que em 12 de agosto já se achavam em franco andamento os trabalhos de demolição, já tendo sido retirado todo o teto e iniciados os serviços de demolição das paredes.

Os jornais que circulavam na época em Mossoró e Natal, acompanharam de perto toda a agonia da Vila. Em 15 de julho de 1906 o jornal “O Commercio de Mossoró” notificava:

“Alguns casos de Febre

Mortalidade de ratos

Opiniões do Médico da Villa Abandonada

Providências da Polícia e da Municipalidade

Como na Vila de Caraúbas, como em São Miguel do Jucurutu e em outros lugares do interior do Estado, apareceram há meses em Areia Branca alguns casos de febre, cuja natureza não foi possível acentuar por falta de médico que a examinasse.

Aumentando, ultimamente, esses casos e aparecendo alguns ratos mortos, a população daquela Vila alarmou-se por acreditar que se tratava da terrível peste negra, originária da Índia.

Solicitado pelo Exmo. Governador do Estado, a quem foram comunicadas as apreensões daquela população, o ilustre clínico desta Cidade, Dr. Almeida Castro, transportou-se a Vila de Areia Branca e pode conhecer pela maioria dos casos que examinou, que se tratava de uma febre palustre, oriunda da falta de higiene e da existência de pântanos na proximidade da Vila.

Justamente receosas de permanecer em uma localidade onde está grassando febre infecciosa, as famílias bateram em retirada e de um dia para o outro ficou deserta a Vila de Areia Branca.

Todas as pequenas embarcações do porto, lanchas, botes, canoas, foram empregadas no serviço de transportar o pessoal para as Areias, Tibau, etc.

Esta Cidade foi a que recebeu maior número de famílias.

A princípio assustou-se a população com o contato dessa gente vinda de um ponto infeccionado: logo que soube, porém, que a febre não era contagiosa e sim motivada pelas condições locais de falta de higiene em Areia Branca, tranquilizou-se e esperou confiante as medidas preventivas que as autoridades saberiam tomar.

Estas, de fato, não demoraram em providenciar a limpeza pública da Cidade, dos quintais, remoção de porcos que por ventura houvesse nos muros, desinfestação de esgotos e latrinas e todas as medidas preventivas em ordem a evitar o aparecimento da moléstia entre nós.

A Cidade está limpa e asseada e é o melhor possível o estado sanitário.

Dos seus naturais não há nenhum doente de moléstia suspeita, e da própria população advinda de Areia Branca nenhuma caiu ainda doente, apesar de bons quinze dias que já aqui estão. “

Na próxima semana continuaremos com esse assunto. Até lá.

Geraldo Maia – colunista

É Notícia Mossoró

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