Notícias

Para a História de Areia Branca

De início, tudo o que havia na região era um mundo de várzeas, cortadas pelo rio Mossoró e seus afluente, suas gamboas e manguesais. Mas um dia chegaram os holandeses que descobriram a existência de sal, muito sal cristalizado nos “baldes” naturais às margens do rio, onde a água das marés inundava.

O historiador Manoel Ferreira Nobre, em seu livro “Breve Notícia sobre a Província do Rio Grande do Norte”, editado em 1877, afirma que a primeira exploração das salinas do rio Mossoró se deu no ano de 1733.

Já os Drs. Tavares de Lira e Vicente de Lemos, em seu livro “Questões de Limites”, dizem que essas salinas foram descobertas desde o começo do século XVII, pois acrescentam: “em 1630 Adriano Werdonche na memória do mesmo ano apresenta ao conselho político do Brasil, tratando do Forte dos Reis Magos, assegurava que quando ali havia falta de sal o Capitão-mor do Rio Grande do Norte, mandava uma ou duas barcas de 45 a 50 toneladas, a um lugar distante 60 milhas para o norte, onde existiam grandes e extensas salinas que a natureza criou por se e onde poderiam carregar mais de mil navios com sal que era mais forte que o espanhol e alvo como a neve”. O certo é que desde o início do século XVII essa região já era conhecida.

Consta que em 1867, quando o governo da Província transferiu da Jurema para a Ilha da Maritacaca ou Ilha das Areias Brancas, por conveniências administrativas, o barracão construído para armazenamento das mercadorias em trânsito para Mossoró e outras áreas, a ilha continuava praticamente deserta. Lá existia apenas uma mata, com dois ou três ranchos de pescadores, pertencente a Francisco Gomes da Silva e alguns de seus filhos.

Durante a Guerra do Paraguai (1864 – 1870) o Brasil teve dificuldade de repor os soldados que tombavam em batalha por não ter uma tropa de contingência. A solução foi mandar tropas de soldados, que percorriam os interiores, recrutando jovens a partir dos 18 anos de idade, para a guerra. Para fugir do alistamento, alguns jovens moradores da Barra de Mossoró, Paneminha e outros lugares próximos, lá se refugiavam para se livrarem dessa caçada humana. Há até um fato interessante, que Francisco Gomes da Silva, que era conhecido pela alcunha de Velho Xico Gomes da Barra, Feliciano Gomes e outros seus parentes, que eram moradores da referida Barra, muito se celebrizaram na tomada de recrutas das mãos de autoridades legais. Quando libertos, eram enviados para a mata da ilha de Areia Branca, onde se consideravam salvos do recrutamento.

Em 1870 João Francisco de Borja estabeleceu uma casa de venda de gêneros alimentícios, fazendas, etc., e era ele também o encarregado do recebimento de mercadoria de importação e exportação do comércio de Mossoró. Sabendo aproveitar a oportunidade, transformou sua casa em hospedaria, para atender aos que embarcavam ou desembarcavam no Porto.

Em 1872, quando foi criado o Distrito de Paz, Joca Soares foi eleito seu 1º Juiz, tendo também ocupado outros lugares de eleição populares e de nomeação do governo.

Em 1883 o missionário capuchino de nacionalidade italiano, Frei Fidelis, fez missões em Areia Branca, onde conseguiu com a ajuda dos habitantes do lugar, a construção de uma pequena capela de taipa, coberta de telha, dentro da qual se celebravam missas e outros atos religiosos. Essa capela foi demolida em 1877.

Foi também Joca Soares o construtor da primeira salina do município de Areia Branca, à direita do rio Mossoró, no lugar da Serra Vermelha, em 1878, juntamente com o seu cunhado, Joaquim Nogueira da Costa, comerciante em Mossoró.

Na seca de 1877 a 1879, grande número de retirantes se instalaram na ilha, que destruíram totalmente a mata ali existente para a construção de palhoças. O governo da Província mandou distribuir víveres aos mesmos e providenciou também a construção de hospitais e lazaretos na Barra de Mossoró, para atender aos mais necessitados.

Acontece que o tempo foi passando e os víveres foram escasseando, de modo que terminou criando um clima de insatisfação entre a população de flagelados, diante das notícias insistentes de que existiam gêneros alimentícios nos armazéns da Comissão e esses não eram distribuídos. Talvez pela ineficiência dos membros da Comissão ou por omissão mesmo, o certo é que a Comissão criada pelo Governo se transformou no pivô de um trágico acontecimento.

No dia 27 de janeiro de 1879, ouvindo falar da presença, no povoado, do farmacêutico Heculano Montenegro, que era membro da Comissão do Governo, um grupo de flagelados, liderados pelo Alferes Francisco Moreira de Carvalho, decidiu procura-lo, na busca de uma solução para os cruciais problemas que estavam enfrentando. Acontece que, no mesmo dia, desembarcava na povoação, uma tropa de soldados, mandados de Mossoró, sob o comando do Alferes Manoel Rodrigues Pessoa, a fim de coibir qualquer perturbação da ordem pública e com ordens expressas de prender o Alferes Moreira. Mas ao tentar cumprir a ordem de prisão contra o líder dos revoltosos, o Alferes Pessoa foi vítima de tiros partidos do grupo de flagelados, vindo a morrer no local do encontro, bem próximo ao rio Mossoró.

No combate que se travou, restou o saldo de mais de uma dezena de mortos. Apavorados, diante de uma perspectiva de invasão de Mossoró, pelos flagelados, a fim de cobrarem satisfação pela omissão do socorro, os membros da Comissão fugiram apressadamente da cidade, para Natal e Fortaleza.

O Alferes Moreira foi preso e transferido para Natal, mas no fim do mesmo ano foi submetido a júri popular, em Mossoró, sendo absorvido e posto em liberdade.

Esse episódio ficou conhecido como “O Hecatombe de Areia Branca”, palavra que significa “massacre de um grande número de pessoas; mortandade, carnificina. ” A lição que ficou de tudo isso foi que tudo poderia ter sido evitado, se tivesse havido mais humanidade entre os membros da famosa Comissão do Governo.

Na próxima semana continuaremos com mais informações para a História de Areia Branca.

Geraldo Maia – colunista

É Notícia Mossoró

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo