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Santa Luzia: E a festa que não aconteceu

A tradicional festa de Santa Luzia do Mossoró acontece desde o amanhecer do pequeno arraial. E em mais de duzentos anos de existência, por apenas três vezes ela não aconteceu.

É dito e aceito que a cidade de Mossoró começou ao redor de uma pequena capela que foi erguida na fazenda Santa Luzia, de propriedade do Sargento-Mor Antônio de Souza Machado. A construção da referida capela deveu-se ao cumprimento de promessa feita pela esposa do Sargento-Mor, dona Rosa Fernandes. Para tanto, os proprietários da Santa Luzia requereram ao visitador diocesano de Olinda, Padre Inácio de Araújo Gondim, de passagem por Aracati/CE, autorização para erguer a referida capela, tendo sua petição atendida em 05 de agosto de 1772.  E já no ano seguinte a capela encontra-se erguida e em atividade, tendo o primeiro ato acontecido em 25 de janeiro de 1773, quando foi batizada uma criança do sexo feminino, cerimônia essa oficiada pelo padre José dos Santos da Costa. Em 9 de maio do mesmo ano era feito o sepultamento de uma criança na recém construída Capela de Santa Luzia. Dessa data em diante, os mortos de Mossoró passaram a serem sepultados no interior da capela, visto que anteriormente, por falta de campo santo, as pessoas que morriam no povoado eram sepultadas na Capela de Mata Fresca, comunidade distante 72,0 Km de Mossoró. Em 6 de outubro de 1778 é realizado o primeiro casamento na Capela de Santa Luzia, sendo os nubentes Gregório da Rocha Marques Filho e Francisca Nunes de Jesus, tendo como testemunhas o português coronel regente Francisco Ferreira Souto e Antônio Afonso da Silva, o primeiro sendo morador de Mossoró e o outro do Panema. A solenidade realizada pelo carmelita Frei Antônio da Conceição.

Mas apesar da pequena capela está funcionando normalmente, não tinha ainda a imagem do seu orago. Não havia na região artesão santeiro. Em 1779  Dona Rosa Fernandes manda buscar em Portugal uma imagem de Santa Luzia, em madeira, adquirida pelo valor de 25$600. Essa imagem é a mesma que até hoje é conduzida nas procissões e peregrinações.

Com a chegada da imagem, em 1779, dar-se início aos festejos de Santa Luzia do Mossoró. Antes, pequena aglomeração na porta da capela, onde os devotos, em suas melhores roupas, prestavam suas homenagens à padroeira, com novenas e orações. Hoje, a maior festa religiosa da região. Festa essa que começa normalmente no dia 03 de dezembro e segue até o dia 13. O encerramento da festa se dá com a procissão que sai da Catedral, percorre diversas ruas da cidade e volta à igreja, acompanhada de grande massa humana. A cada ano, a procissão de Santa Luzia aumenta com a vinda de romeiros de municípios de todo o Estado e até de Estados vizinhos. São  crianças, jovens, adultos e idosos emocionados que seguem a procissão entoando, em uníssono, o famoso refrão: “Ó Santa Luzia, pedi a Jesus, que sempre nos dê, dos olhos a luz”.

Em apenas três oportunidades não houve a festa de Santa Luzia, por motivo explicado como razoável. No ano de 1860, a irmandade de Santa Luzia determinou que não se festejaria a Padroeira, enquanto não fosse concluída a reforma do templo, reforma essa que se arrastava desde 1858.

Ainda ocorreu fato semelhante em 1865, pois consta de um livro de Atas da Irmandade, estando ali declarado que “deixava de ser feita a Festa da Padroeira, devido o estado da Igreja, que ainda se achava em obras e que o dinheiro fosse aplicado na mesma”. Os trabalhos, no entanto, só foram concluídos de 1866 para 1867.

Em 1935 também não se realizou a Festa da Padroeira. E dessa vez foi o Padre Luís Mota, vigário da Catedral, quem determinou o cancelamento da festa, pelo estado de intranqüilidade pública reinante no Estado, em particular em Mossoró, por causa da Intentona Comunista deflagrada em Natal, que tomou conta do governo e instalou ali a miniatura de um soviet. Os adversários do vigário não lhe poupavam a pele, dizendo: “– Mas, já se viu que coisa! Agora, não tendo mais a quem perseguir, o Padre mete Santa Luzia na política!… Quando mais se precisava de reza, ele manda fechar a igreja. E ainda tem quem fale de uns ateus de meia-cara que andam por ai.”

Geraldo Maia – colunista

É Notícia Mossoró

 

 

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