ESAM: 55 anos da instalação da Escola de Agronomia de Mossoró
Em março de 1967 Jerônimo Dix-huit Rosado Maia, por sugestão de Dinarte Mariz ao Presidente da República Costa e Silva, assumiu a presidência do Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário, na época o mais importante órgão responsável pelas políticas agrícolas e fundiárias do País. O Presidente lhe dava status de ministro. Em suas andanças Brasil afora, costumava dizer” “Quem não faz um pouco mais por sua terra, não fará nada pela terra de ninguém. ”
No mês seguinte, por volta dos dias 16 a 18 de abril, Dix-huit voltou a Mossoró pela primeira vez como presidente do INDA. Aproveitando a situação em que se encontrava o irmão, Vingt-um Rosado perguntou-lhe se ele não topava realizar o sonho de Ulrich Graf e fundar em Mossoró uma escola de agronomia. Dix-huit ouviu calado. Mais tarde mandou chamar Vingt-un e disse: “Não tem sentido o INDA construir uma escola de agronomia em Mossoró, mas vamos fazer um convênio com a Prefeitura e lhe entregar os recursos necessários para fazê-la. Hoje à noite, 18 de abril de 1967, haverá uma reunião no Rotary Club de Mossoró e eu vou comunicar que me convenci das suas razões. Mande redigir um decreto municipal criando a escola”.
Coube a Vingt-un a tarefa de convencer o Prefeito da importância dessa medida para Mossoró. Por sorte, estava à frente da prefeitura um homem inteligente, comprometido com a educação e com o crescimento de Mossoró, que era Raimundo Soares de Souza.
Com a concordância do Prefeito, Vingt-un partiu para a parte legal do processo. Para isso pediu a João Batista Cascudo Rodrigues que redigisse o decreto. O decreto foi assinado pelo Prefeito Raimundo Soares e divulgado no mesmo dia por Dix-huit no Rotary.
O decreto criando a Escola de Agronomia surgiu sob o nº 03/67, de 18 de abril de 1967. Todos os custos com o processo foram repassados pelo INDA a Prefeitura Municipal de Mossoró, conforme tinha sido combinado.
A escola recebeu o nome de Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM, sigla escolhida por Vingt-un inspirado na sua querida ESAL – Escola Superior de Agricultura de Lavras, onde tinha se formado e onde sonhara a ESAM.
Resolvido esse primeiro obstáculo, outro surgiu: onde localizar a Escola? Vingt-un, apesar de Engenheiro Agrônomo, não se sentia capacitado a indicar a solução mais correta. Desde que se formara, nunca tinha trabalhado como agrônomo.
Ficou acertado que Vingt-un viajaria ao Ceará para ouvir a opinião de algum mestre da sua valorosa Escola de Agronomia. Depois de apresentar as alternativas possíveis, o colegiado cearense aprovou por unanimidade a Fazenda Pinto. E essa foi adquirida para a construção da ESAM.
A construção do primeiro edifício começou em 3 de julho de 1967. Por 172 noites Vingt-un montou vigília assistindo à concretização de seu sonho. Contam que durante a construção da Escola, chegou a levar uma cadeira de balanço e dormia na obra para acompanhar de perto o seu desempenho.
Em depoimento, disse Vingt-un: “Era a fase heroica dos cento e setenta e dois dias da construção. Mudei-me para aqui. Nas colunas que subiam, nas lajes que se enchiam, nas paredes que se lá, eu encontrava, cada dia, as madrugadas da Fazenda de Fuão Pinto. “
Construído o prédio central, foi feito o convite para que o Presidente Costa e Silva viesse inaugurar a ESAM. Havia sido marcada a data para 13 de dezembro de 1967, mas o Presidente só pode comparecer no dia 22 do mesmo mês e ano. Foi interessante, porque mesmo um jornal de São Paulo disse: “Mossoró é uma cidade engraçada. Há uma placa que diz que a Escola de Agricultura foi inaugurada no dia 13, e a Escola foi inaugurada no dia 22”. Costa e Silva veio, não no dia 13, porque coincidia com festividades da Marinha, mas logo depois, no dia 22. A pretensão do dia 13 seria para coincidir com o Dia de Santa Luzia, o dia das claridades, que segundo Vingt-un seria para que todo mundo visse a obra que estava sendo construída em Mossoró.
Depois que conseguiu criar a ESAM, juntamente com o seu irmão Dix-huit Rosado, Vingt-un procurou direcionar o esforço de pesquisa e a filosofia de trabalho da nova Escola para os problemas agropecuários do semiárido Nordestino. Contou para isso com a colaboração dos maiores especialistas da área, como José Guimarães Duque, Francisco Alves de Andrade, Paulo de Brito Guerra, Manuel Correia de Andrade e muitos outros estudiosos, que aqui vieram proferir palestras e ministrar cursos, visando doutrinar os primeiros professores da instituição sobre as tecnologias adequadas ao ambiente seco e ao povo do Nordeste. Afinal, sempre foi essa a sua intenção: criar uma faculdade de agricultura voltada para o semiárido.
O curso de Agronomia foi autorizado a funcionar pelo Egrégio Conselho Estadual de Educação, com o seu primeiro vestibular previsto para o ano seguinte, 1968.
Implantada a Escola, já com o seu primeiro curso funcionando, disse Vingt-un: “Deus me deu o privilégio a ser o primeiro a chegar pela madrugada dos acontecimentos maiores da história dessa escola (ESAM).
Em Lavras passei dias inesquecíveis.
Mossoró será a continuidade daqueles dias. ”
Em 29 de julho de 2005 o Presidente da República sanciona a Lei nº 11.155, transformando a ESAM em Universidade Federal Rural do Semiárido – UFERSA.
Geraldo Maia – colunista
É Notícia Mossoró