Política

O que os mercados dizem sobre o resultado das eleições brasileiras?

O resultado das urnas no último domingo, que elegeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o governante da nação pelos próximos quatro anos, não assusta os mercados – pelo menos não por enquanto. A afirmação vem do relatório “Eleições brasileiras: a calmaria antes da tempestade?” divulgado pela Allianz Trade, empresa global especializada em seguro de crédito

De acordo com o estudo, o atual quadro político brasileiro, em que um ex-presidente assumirá o governo, oferece poucas surpresas aos mercados. Prova disso é que o Real Brasileiro (BRL) tem sido muito menos volátil durante as eleições atuais do que nas eleições anteriores, quando mudanças na direção do governo (da esquerda para a direita, ou vice-versa), estiveram associadas à maior volatilidade na taxa de câmbio, como mostra o gráfico abaixo.

Para os especialistas da Allianz Trade, as maiores preocupações para o Brasil neste momento são externas, como o aperto das condições financeiras dos EUA e os preços do petróleo (juntamente com a demanda chinesa).  Já no campo interno, a grande apreensão está relacionada à inflação local, que segue sem controle. Os economistas preveem uma inflação de 5,1% em 2023 contra a meta do Banco Central, de 3,25%. A expectativa é ainda que a taxa Selic se mantenha em 13,75% até o fim de 2022 e que comece a reduzir em 2023, elevando as taxas de juros para 12% até o final do ano que vem.

Política fiscal em foco

A política fiscal será uma questão central no próximo governo. Quando comparado aos pares latino-americanos, a relação de dívida pública do país é significativamente maior em 93% em 2021 (a Colômbia é a segunda pior com 64%).  O aumento do programa de transferência de renda (Auxílio Brasil) em R$ 200 até o final do ano, em um ambiente de baixo crescimento econômico, deteriorou ainda mais as perspectivas fiscais. Este chegou a apresentar uma evolução, graças a medidas governamentais, como o corte nos preços dos combustíveis pela Petrobras, além da isenção fiscal sobre combustíveis e energia elétrica. As expectativas de inflação também têm atravancado o crescimento econômico e com taxas de juros mais altas por mais tempo.

Por isso, o relatório da seguradora faz um alerta pelo equilíbrio fiscal. Segundo o estudo, o aumento dos gastos de R$ 100 bilhões em média durante o próximo mandato levaria a um déficit primário de -1,9% para 2023. Isso significa um retorno aos níveis observados em 2015-2017 e um dos piores desempenhos fiscais dos últimos 20 anos – excluindo os efeitos excepcionais da pandemia Covid-19, conforme mostra o gráfico.

Nesse contexto, fica claro que o próximo governo precisa retomar a agenda de reformas para enfrentar o impasse fiscal. A regra de crescimento das despesas e o potencial crescimento da economia têm impactos significativos nas projeções. O cenário da linha de base considera o crescimento econômico próximo ao seu potencial (+1,9%) a partir de 2024, após +0,8% em 2023. Certamente, a adoção de uma regra fiscal coerente com a obtenção de resultados primários positivos e a adoção de reformas que permitam o crescimento potencial da economia serão fundamentais para a redução da dívida pública. Caso contrário, o prêmio de risco do Brasil certamente aumentará no médio prazo, o que levará a um menor crescimento, taxas de juros mais altas e, consequentemente, maior endividamento. Os economistas da Allianz Trade concluem que, neste sentido, a tarefa em mãos para o próximo presidente é clara e que os investidores observarão de perto.

 

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