Descrição bucólica de uma viagem a Tibau
Viajar para Tibau hoje, pela RN-013, leva apenas 32 minutos de carro, se houver pouco trânsito. Como dizemos por aqui, “é um pulo”. Mas antes era diferente. Em 1920, por exemplo, para se fazer essa mesma viagem, levava-se o dia todo viajando em carro-de-boi, percorrendo as oito léguas que separavam Mossoró daquela comunidade. E precisava de um planejamento bem maior. E como acontecia:
Nas férias escolares, algumas famílias se preparavam para passar meses na praia de Tibau. Dias antes, começavam as arrumações. Em sacos e trouxas eram guardados objetos caseiros, redes, roupas, lençóis e alimentos.
No dia marcado, a família se levantava cedo. Às seis horas, o carro-de-boi estava pronto. A capota de esteira feita com palha de carnaúba, protegia os viajantes contra o sol e a chuva. Puxado por três a quatro juntas de boi, sendo a primeira ao pé do carro, a mais forte. Ligadas por um cambão – trave que passava por cima dos pescoços, formando a parelha. Esse cambão também era chamado de “canga dos bois”. Dois paus de madeira forte enfiados no cambão, ficavam de cada lado do pescoço da rês, dificultando os movimentos da cabeça. Na longa viga, saída do centro do carro, o timão, atrelavam a parelha e, no cabeçalho, prendiam a canga.
O carreiro portava relho e vara com ferrão para tanger os animais. Em geral, viajava sentado numa das quinas, à frente da carroceria, com as pernas para fora. Levava um jovem companheiro, montado num burro, que cavalgava à frente ou atrás da viatura. Atendia a mandados e tratava das rezes.
Embaixo do estrado, eram pendurados dois grandes chifres – um com sebo e outro com carvão vegetal pulverizado. A mistura dessas substâncias era colocada nos eixos das rodas. Quando em movimento, produzia grande rugido e evitava incêndio.
Preso ao veículo, haviam dois sacos de couro curtidos, com gargalos e tampas, cheios de água. Serviam aos passageiros e aos animais. No estrado além dos pneus dos lados, fixavam um banco à frente e dois atrás, sendo um de cada lado.
Após o café da manhã, cada pessoa, carregando sua bagagem, tomava o transporte. Pouco depois das seis horas, partia-se, ante os gritos aboiantes do carreiro: Ei, boi! Repetia esse grito a todo instante. O soar do eixo, rodando, era ouvido ao longe. Assim a comitiva deixava a cidade, numa viagem que duraria o dia todo. Às 10 horas e meia, davam uma paradinha para o almoço, normalmente num sítio, no lugar Grossos. Os bois eram desencangados, levados a beber água, pastar e descansar.
Às duas e trinta da tarde, atrelavam outros bois e partiam. Às cinco horas já se avistava Tibau, mas era preciso outra meia hora para se chegar ao destino.
As casas em sua maioria eram de taipa, alpendradas, cobertas de palha de carnaúba, e rebocadas de barro amarelo. Da cacimba rasa no quintal, fluía água claríssima. Os recém-chegados tratavam de armar as redes e procurar acomodações.
A praia de Tibau era rica em peixes e camarões, apanhados em tresmalhos. Pescadores trabalhavam apenas duas vezes por semana. O resto da semana passavam tomando cachaça.
Terminada as férias, a família regressava da mesma maneira. As areias das dunas, de tonalidades diversas, ofereciam paisagem sui generis ao visitante.
Era assim que se viajava a Tibau nos anos vinte, numa descrição bucólica.
Geraldo Maia – Colunista
“É Notícia Mossoró”