Cultura

Como se locomoviam os mossoroenses e o primeiro carro a chegar na cidade

De volta ao passado da bucólica Mossoró do início do Século XX, nos deliciamos com as narrativas dos seus habitantes sobre os meios de transporte usados na cidade. Em velhos livros amarelados pelo tempo lemos alguns relatos onde tomamos conhecimento que a condução mais importante em Mossoró era a diligência de “Seu Pompílio”, um carro grande de quatro rodas, puxado por uma parelha de burros. Os passageiros compravam as passagens para andar na cidade ou para irem ao Porto de Santo Antônio, de onde chegavam pessoas de barco pelo Rio Mossoró, vindos de Areia Branca e vice-versa. Outra famosa e muito conhecida era a diligência do Dr. Almeida Castro, médico do lugar.

Cavalos e burros eram os transportes principais. Todos que chegavam de fora vinham nesses animais e as casas tinham no quintal um abrigo para eles.

O primeiro automóvel a chegar em Mossoró foi em 1912, da firma Tertuliano Fernandes & Cia. Teve pouca duração. Teve também o auto adquirido por Delfino Freire, que era um rico comerciante local, dono de várias firmas comerciais. Era um carro grande, com capota de lona, com lugar para duas pessoas na frente e cinco atrás. A buzina ficava por fora, ao lado do motorista. Parecia uma corneta e era acionada apertando-se uma pera de borracha. Não havia bateria nos carros, por isso era usada uma manivela para fazer o motor funcionar. Com o carro, Delfino Freire mandou trazer um chofer, que por ser francês, não tomava água, somente vinho, que era comprado em Aracati, porto do Ceará.

Em 1920 Rodolfo Fernandes comprou um Ford. Fez a primeira viagem a Vila de Apodi, causando sensação. Durante o trajeto, as pessoas fugiam apavoradas das estradas. Quando o automóvel chegou na cidade, o povo que estava na rua correu para dentro de suas casas, fechando as portas, achando tratar-se do diabo, pois além do barulho que fazia, dava estrondos, fumaçava e andava sem ser puxado por animais. Foi preciso a interferência do intendente para acalmar o pessoal, dizer que aquelas pessoas eram amigas e convidar a todos para conhecer o automóvel.

Encontrei o relato de um cidadão que em 1924 fez uma viagem de Mossoró para Assú, 12 léguas de distância, como se dizia naquela época. Segundo ele, o carro tinha rodas de motocicleta e pneus finos. Conduziam, no mínimo, seis sobressalentes, além de algumas câmaras de ar. Um jovem preto e forte ia ao lado do chofer como ajudante, para girar a manivela e trocar os pneus que, a todo momento, estouravam. Já andava com um vidro de cola para os consertos das câmaras. Na lateral da boleia eram amarradas “borrachas de água”, para matar a sede dos passageiros durante a longa viagem. A capota era de lona, aberta nas laterais. As estradas eram usadas para tropas de burros ou carros de boi, o que as tornavam péssimas para automóvel. Saíram de Mossoró de manhã cedinho e chegaram a Assú por volta do meio-dia. Voltaram dois dias depois, nas mesmas condições.

Eram assim os primeiros transportes que circularam em Mossoró no início do Século XX.

Geraldo Maia – Colunista

“É Notícia Mossoró”

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