O Tiro de Guerra de Mossoró
“Não me mandas contar estranha história, mas mandas-me louvar dos meus a glória”. Assim Camões se dirigia ao rei em seu canto III de “Os Lusíadas”. Faço o mesmo ao me dirigir a vocês, caros leitores, para contar a história do Tiro-de-Guerra de Mossoró.
Tudo começou quando às 16:00h de um domingo, dia 7 de novembro de 1909, no salão nobre do antigo Colégio Diocesano Santa Luzia, se reunia uma boa parcela da sociedade mossoroense, com o objetivo de organizar um clube com fins militares, que se denominaria “Sociedade Brasileira do Tiro Mossoroense”. Essa reunião era dirigida por uma alta atente da Guarda Nacional, que convidou, tão logo se concretizou o ato, à comparecer todos os cidadãos que dela desejassem fazer parte. Estava criado assim o Tiro de Guerra de Mossoró, tendo a data de 7 de novembro de 1909 como marco na história de sua criação. Os Tiros-de-Guerra (TG) são órgãos de formação da reserva que possibilitam a prestação do serviço militar inicial, de modo a atender a lei, mas conciliando o trabalho e o estudo dos jovens. No caso específico de Mossoró, a criação do “Tiro” tinha o objetivo de proporcionar instrução militar à classe caixeral (comerciantes), empenhando-se para isso a “União Caixeral”, entidade classista da época.
A idéia da criação do Tiro de Guerra de Mossoró foi bem aceita pela sociedade, tanto assim que os jornais da época se ocuparam de ressaltar a sua importância. Na sua edição de 14 de novembro de 1909 o jornal “Comércio de Mossoró” trazia um artigo onde dizia: “ … sob os melhores auspícios e com numerosa assistência foi fundada a Sociedade Brasileira do Tiro Mossoroense, que será instalada no dia 15 do corrente, sendo eleita e empossada a diretoria que tem de tem de geri-la no primeiro ano social.”
Destacava ainda o jornal: “Sociedade utilíssima aos moços que dela fizerem parte, não só por completar-lhes a educação nesse particular ensino do Tiro de Guerra, como pelas vantagens de isenção do Serviço Militar. Foi o Tiro Mossoroense aceito com ardoroso entusiasmo pela nossa mocidade, sempre entusiasta dos nobres ideais, ativa no serviço e no amor que se dedica à Pátria”.
A “Sociedade Brasileira do Tiro Mossoroense” começou com 81 sócios, sendo a sua primeira diretoria constituída, de acordo com a matéria publicada no jornal “Comércio de Mossoró” – edição de 21/11/1909, da seguinte forma: Presidente – Bento Praxedes; Vice Presidente – Tem Cel. Antônio Filgueira Filho; Tesoureira – Alfredo Fernandes; Secretário – Antônio Quintino; Diretor de Tiro – Major Romão Filgueira; Membros – João Capistrano, Major Vicente Couto (da Guarda Nacional), José Pedro do Monte, Tenente Vicente Ferreira Cunha da Mota e Genuíno Alves de Souza. Comissão de Contas: Francisco Borges de Andrade, João Nogueira da Costa e Raymundo Jovino de Oliveira.
No dia 21 de novembro do mesmo ano, houve uma reunião dos sócios em assembléia para deliberar sobre a incorporação da Sociedade Brasileira do Tiro Mossoroense à Confederação do Tiro Brasileiro, sendo por unanimidade de votos aceita a idéia. A incorporação se deu em 23 de fevereiro de 1910, sob o número 42.
Cento e treze anos se passaram desde aquele longínquo 7 de novembro quando foi criado o Tiro de Guerra de Mossoró. Por suas fileira passaram várias gerações de jovens mossoroenses. E graças ao interesse e dedicação de um dos seus comandantes, o 1º sargento da Arma de Cavalaria Rinaldo Difforene Schultz, sua história foi contada em livro. Trata-se de um belíssimo trabalho de pesquisa onde o autor conta, com detalhes, toda a história da corporação, incluindo a listagem dos nomes de todos que por ela passaram, até o ano de 2005, quando o livro foi publicado.
Existem hoje, em todo o país, cerca de 240 Tiros de Guerra, que formam juntos mais de 20.000 atiradores por ano.
Geraldo Maia – Colunista
“É Notícia Mossoró”