“O cangaceiro Jararaca”
Entre o bando de facínoras que atacou Mossoró no dia 13 de junho de 1927 estava o cangaceiro “Jararaca”, que foi baleado, preso e justiçado. Pagou com a própria vida os crimes praticados na sua caminhada sangrenta. Em seu túmulo, no cemitério de Mossoró, ardem velas em intenção de sua alma, que pela crendice popular “obra milagres”.
José Leite de Santana nasceu no dia 5 de maio de 1901 na Ribeira do Juá, hoje Moderna, no município de Buíque, Estado de Pernambuco. Era um tipo forte, de estatura mediana, moreno- escuro e de comportamento violento. E foi por causa do seu comportamento que teve que fugir de sua cidade, indo para Maceió, Alagoas, onde em 1921 “prestou praça” no exército, sendo transferido para o Rio de Janeiro, onde foi ordenança do Coronel Antônio Francisco de Carvalho na Junta de Alistamento Militar, chegando a combater, em São Paulo, a revolução do General Militar Isidoro Lopes.
Em 1925, como nos informa o historiador Luís Câmara Cascudo, José Leite estava no sertão pernambucano, e com a alcunha de “Jararaca” já se encontrava “chefiando bandos de cangaceiros, assaltando fazendas e comboeiros, incendiando, matando, depredando”. Juntou-se ao bando de Lampião em princípios de 1927, levando oito companheiros. Destacou-se no grupo por ser exímio atirador e grande lutador de faca. Em junho do mesmo ano participou do ataque a cidade de Mossoró, onde foi baleado, preso e executado.
Quanto ao episódio da morte de Jararaca, há várias versões. Me baseio no depoimento que Pedro Sílvio de Morais, um dos integrantes da escolta que “justiçou” o cangaceiro, fez ao historiador Raimundo Soares de Brito. Dizia o depoente: “ – Pelas onze e meia horas da noite, de uma noite de luar muito clara, e sempre fria, do mês de junho, uma escolta composta de oficiais, sargentos e praças, conduziu em automóvel o bandido, dizendo que ele ia para Natal.
No momento da saída e ao dar entrada no carro, Jararaca disse que tinha deixado as alpargatas na prisão e pediu ao comandante para mandar buscá-las, pois não queria chegar na capital com os pés descalços. O Tenente-comandante estão disse que em Natal lhe daria um par de sapatos de verniz.
Quando os automóveis pararam no portão do cemitério por motivo de “pane no motor” de um deles, Jararaca perguntou:
– Mas, isto aqui é o caminho de Natal?
Como resistisse descer do automóvel, um soldado, empurrando-o, deu-lhe uma pancada com a coronha do fuzil.”
O restante da história é contado por Leonardo Mota (“No tempo do Cangaço”, 36) que diz:
“No Cemitério, rodeado de soldados, mostraram-lhe uma cova aberta lá num canto, quase fora do “sagrado” e lhe perguntaram se ele sabia para que era aquilo. Foi quando Jararaca falou, frocado e destemido: “- Saber de certeza não sei não, mas, porém, estou calculando. Não é para mim? Agora, isso só se faz porque me vejo nestas circunstâncias, com as mãos inquirida e desarmado! Um gosto eu não deixo para vocês: é se gabarem de que eu pedi que não me matassem. Matem! Matem, que matam, mas é um home! Fiquem sabendo que vocês vão matar o homem mais valente que já pisou neste…”
Segundo o autor, Jararaca não teve tempo de dizer o que queria. Um soldado, por trás dele, deu-lhe um tiro de revolver na cabeça. Ele caiu e foi empurrado com os pés para dentro da cova.
Em resumo, essa é uma das muitas versões existentes sobre a morte de Jararaca. Para o historiador Raimundo Soares de Brito, foi “Um gesto reprovável que serviu apenas para empanar o brilho e enegrecer a página gloriosa que os mossoroenses escreveram na repressão ao grupo de invasores”.
Essa história eu conto com maiores detalhes no livro “Jararaca – Prisão e morte de um cangaceiro”, editado pela Edições Sebo Vermelho – Natal/RN, 2016.
Geraldo Maia – Colunista
“É Notícia Mossoró”