O velho Vigário Colado de Mossoró
O seu nome era Antônio Joaquim Rodrigues, nascido na vila de Aracati/CE em 5 de novembro de 1820, sendo filho do português Antônio Joaquim Rodrigues, comerciante, e de Vicência Ferreira da Mota, natural do Apodi, filha legítima de Antônio da Mota Ferreira e de sua mulher Josepha Ferreira da Mota.
Em 1824, por via da guerra republicana de Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, que conflagrou todo o solo cearense, mudou-se seus pais com toda a família para a então povoação do Apodi, onde o menino aprendeu as primeiras letras. Seu aprendizado em latim e preparatório foi feito na cidade de Martins, com o professor Francisco Pereira. Em 1840 seguiu o jovem Antônio Joaquim para o Seminário de Olinda, onde se ordenou Presbítero em 1843.
Através da Lei Provincial nº 87, de 27 de outubro de 1842, a capela de Santa Luzia do Mossoró, que era filial da do Apodi, foi declarada Freguesia Independente. Foi aberto, então, um concurso para o cargo de Vigário Colado da nova Freguesia, e o Padre Antônio Joaquim, que ainda era diácono, submeteu-se a esse concurso sendo aprovado e promovido Pároco, tomando posse no ano de 1844, na companhia dos seus irmãos de hábito os padres Francisco Longino Guilherme de Melo, Leonardo de Freitas Costa, José Antônio Lopes da Silveira e Florêncio Gomes de Oliveira.
A nova Freguesia era pobre; o comércio quase nulo; os poucos comerciantes que haviam, traziam do Aracati as mercadorias em costas de animais. A agricultura era quase nenhuma; a maior parte da população vivia da indústria pastoril. Foi essa a condição encontrada pelo Vigário Antônio Joaquim Rodrigues na Freguesia que havia assumido.
Como vigário, pastoreou Mossoró por 51 anos, tendo substituído o padre Longino Guilherme de Melo. Foi ele que demoliu a primeira capelinha de Santa Luzia, para em seu lugar construir uma maior e mais sólida. Criou, em 1855, a Irmandade de Santa Luzia. Conseguiu que vários missionários viessem a Mossoró e construiu, em 1873, juntamente com Frei Fidelis, um cemitério na cidade.
Como político, foi membro do Partido Conservador, exercendo o cargo de Deputado Provincial em sete mandatos, no período de 1853 a 1873, como representante de Mossoró. Por mais de uma vez esteve à frente daquela Câmara. Durante esse período, lutou para o engrandecimento do povoado de Santa Luzia do Mossoró. Foi através dos seus esforços que o povoado se emancipou em 15 de março de 1852, tornando-se então vila de Santa Luzia do Mossoró. Foi ele o responsável pela vinda do comerciante suíço John Ulrick Graf, que com seus negócios e suas ideias tornaram Mossoró empório comercial da região. Foi dele ainda o Projeto de Lei que elevou a vila de Santa Luzia do Mossoró ao predicamento de cidade, em 9 de novembro de 1870, passando a se chamar desde então Cidade de Mossoró. Fiz disto aqui uma Cidade! Dizia ele abraçando os amigos no regresso à Mossoró que vira povoado e ajudara a fazer vila.
A seu convite vieram a Mossoró os seguintes Presidentes da Província do Rio Grande do Norte: Dr. Pedro Leão Veloso, Dr. Pedro Barros de Mendonça, Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, Dr. Delfino Augusto Cavalcante de Albuquerque e o Dr. Olímpio José Meira.
Fez tanto pela cidade que apesar de pertencer ao Partido Conservador, que era escravocrata, foi abolicionista na brilhante campanha de 1883, quando Mossoró pode declarar-se “livre da mancha negra da escravidão”.
Faleceu em Mossoró, em 9 de novembro de 1894, num dia de domingo, aos 74 anos de idade. E apesar de todo o seu trabalho em prol do engrandecimento da cidade, seus feitos são desconhecidos pelas novas gerações. A municipalidade emprestou seu nome a principal praça da cidade, em frente à Catedral de Santa Luzia, lugar de grande significado histórico, pois foi o berço do nascimento da cidade. E na lateral da Catedral, sob a sombra protetora de um velho tamarineiro, existe um monumento dedicado ao vigário. Esse monumento consta de busto em pedestal que foi mandado construir pelo industrial mossoroense José Rodrigues de Lima, que para tanto contratou os serviços do artista Osísio Pinto. Numa placa na frente do pedestal está escrito:
“Vigário Joaquim de Brito: TU ES SACERDOS IN Æ I ERNUM. Ao Padre Antônio Joaquim, memória de José Rodrigues – 1950.”
A inauguração do busto se deu em 2 de dezembro de 1953 e contou com a presença de autoridades e público em geral, tendo solene bênção do padre Luís da Mota, vigário Diocesano.
Jakob Burckhardt, in “Reflexões Sobre a História do Mundo” diz: “… O que foi outrora alegria e tristeza precisa agora converter-se em conhecimento…”. Podemos dizer, dentro dessa mesma linha de pensamento: O que foi um dia trabalho e dedicação, precisa agora converter-se em reconhecimento…