A Noite da Cultura de Mossoró
É uma homenagem prestada pela Loja Maçônica “Jerônimo Rosado” ao fundador da Coleção Mossoroense, Professor Jerônimo Vingt-un Rosado Maia. O evento acontece a cada 25 de setembro, data do nascimento de Vingt-un.
A primeira Noite da Cultura aconteceu em 1974 e foi sediada no auditório Vingt-un Rosado, ou auditório da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – FACEM. A segunda, terceira e quarta na antiga ESAM – Escola Superior de Agricultura de Mossoró, hoje UFERSA – Universidade Federal Rural do Semiárido. A partir do quinto ano, passou a ser comemorada na própria sede da Jerônimo Rosado, onde permanece até os dias atuais.
No evento, além de comemorar o aniversário de nascimento de Vingt-un, tinha por tradição apresentar aos convidados os títulos publicados pela Coleção Mossoroense naquele ano. É importante salientar que aqueles livros não davam retorno financeiro porque não eram vendidos. Eram doados a pesquisadores e bibliotecas nos quatro cantos do país. A Noite da Cultura era a única oportunidade para o cidadão que não trabalhava com pesquisa comprar os livros. E mesmo o dinheiro arrecadado com a venda dos livros na Noite da Cultura, por tradição, era doado para os trabalhos sociais realizados pela Loja Maçônica Jerônimo Rosado.
Já a Sessão Branca da Loja foi criada pelos Irmãos maçons Sebastião Vasconcelos dos Santos e Nelson Lucas, para celebrar o trabalho do criador e editor da Coleção Mossoroense. A Sessão Branca da Maçonaria é aberta não só aos maçons, como a toda a comunidade. Mas vamos conhecer um pouco da história do homenageado:
Em 25 de setembro de 1920, num dia de sábado, nascia em Mossoró, num velho casarão da Rua 30 de Setembro, Jerônimo Vingt-un Rosado Maia, sendo filho do patriarca Jerônimo Rosado e dona Isaura Rosado Maia. Era o vigésimo primeiro filho de uma família numerosa e numerada, como ele mesmo gostava de dizer, já que seu nome vem exatamente da sequência à ordem numérica francesa dos nomes que Jerônimo Rosado dava aos filhos.
Teve uma infância normal, de brincadeiras telúricas, embora dando a impressão de ser um pouco contemplativo. Desde cedo se dedicou aos empreendimentos intelectuais, preferindo acompanhar a atividade do irmão mais velho, Tércio, filho do primeiro matrimônio do seu pai, que era um homem culto, poeta, amante dos livros e pioneiro do cooperativismo no Estado. E foi ainda na juventude que começou a cultivar o gosto pelos livros e pela pesquisa histórica. Na adolescência atuou como bibliotecário no Colégio Santa Luzia, em Mossoró. E esse gosto pelos livros o acompanharia durante toda a sua vida.
Em 1940 partiu para Lavras/MG para estudar agronomia. Lá chegando, o seu envolvimento com os livros, as letras e a pesquisa tornaram-se mais intensa. Nesse mesmo ano, com apenas 20 anos de idade, publicou o seu primeiro livro, que recebeu o título de “Mossoró”. Esse livro teve sua edição patrocinada por sua mãe. Concluindo o curso em novembro de 1944, voltou para Mossoró para desenvolver atividades junto à empresa familiar que atuava na área de exploração de gesso e paralelamente começou a desenvolver um trabalho no campo cultural, tendo influenciado a criação do Museu e da Biblioteca Municipal. Criou o Boletim Bibliográfico, que depois se transformou na Coleção Mossoroense. Foi professor e idealizador da URRN, hoje Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Foi fundador e duas vezes diretor da ESAM, hoje Universidade Federal Rural do Semiárido e professor Honoris Causa da UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Integrou o Conselho Estadual de Cultura. Imortal e um dos criadores da Academia Mossoroense de Letras. Imortal da Academia Norte-rio-grandense de Letras. Criador e ex-presidente da Academia Norte-rio-grandense de Ciências e a Academia Cearense de Farmácia. Foi sócio honorário do Rotary Club de Mossoró por vários anos, aclamado por todos. Dizia que editar livros era a sua cachaça, o seu vício.
Conheceu Mossoró como ninguém. Escreveu Mossoró como ninguém. Por seus inúmeros trabalhos, poderia ser chamado de jornalista, cronista, ensaísta, historiador, memorialista, folclorista, etnógrafo… Mas prefiro me referir a ele apenas como professor, pois ensinar foi o que ele fez a vida toda.
Jerônimo Vingt-un Rosado Maia morreu no dia 21 de dezembro de 2005, aos 85 anos de idade. Morreu não; encantou-se. Continua vivo na memória do povo da terra que tanto amou, ao ponto de idealizar nela um país, o País de Mossoró.
Mesmo após a sua morte, a Loja Maçônica “Jerônimo Rosado” manteve a tradição de comemorar a cada dia 25 de setembro a Noite da Cultura. Claro que com o falecimento de Vingt-un, caiu muito o brilho da festa. Já não há mais tantas publicações a serem exibidas pela Coleção Mossoroense. Mesmo assim é uma bela e significativa homenagem a um homem que tanto fez pela cultura da terra, homenageando algumas personalidades, tanto pela Maçonaria como pela municipalidade. E para piorar ainda mais a situação, a Pandemia que desde o ano passado vem assolando o mundo, interrompeu o evento. Deveríamos estar comemorando este ano a XLVII Noite da Cultura. Mas a festa não aconteceu. Esperamos que num futuro próximo, possamos retomar nossas atividades e que a Maçonaria continue promovendo, como vem fazendo há 47 anos, a Noite da Cultura de Mossoró.
Geraldo Maia – Colunista do “É Nótícia Mossoró”